Boa tarde!!!
Aqui está o artigo detalhando o projeto! Ele também está publicado nos anais do evento "III Semana de Formação, Pesquisas e Práticas em Educação Infantil – “Olhares Infantis”
ESPAÇO
GRIÔ - HISTÓRIAS E IDENTIDADES
FLORIANO,
M. Bárbara
Profª
Esp. em Psicopedagogia e Educação Especial
RESUMO
Este texto propõe
uma discussão acerca da pluralidade dos
corpos,
gêneros e sexualidades. Encontra sua fundamentação teórica nos
estudos
de gênero, história do corpo e feminismo pós-estruturalista com
o
objetivo de indicar o quanto esses marcadores sociais interferem na
construção
da identidade dos sujeitos. Por fim, sugere que essas questões
sejam
consideradas no desenvolvimento de proposições pedagógicas no
contexto
da escola e fora dela, buscando, sobretudo, o reconhecimento e
respeito pela
diversidade.
Palavras- chave: Infância;
Identidade; Griôs; Diversidade; Gênero
1-
Introdução
Sabe-se
que a temática racial se faz presente em nosso cotidiano desde que o nosso país
foi colonizado, especialmente se pensado pelo
viés da mão de obra escrava indígena e africana. Um fator relevante é que junto
com a mão de obra escrava, segundo Maranhão (2012), também vieram sabedoria,
conhecimentos, culturas e valores. Dessa forma não se pode ignorar a
importância do trabalho com tal temática desde a primeira infância, uma vez que
é nessa fase em que a criança está em pleno desenvolvimento afetivo, cognitivo,
psicológico, social e cultural, ou seja, está se descobrindo e ao se descobrir
também descobre o mundo que a rodeia.
Com a Lei 10.639/03 fica estabelecida a
obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana na
Educação Básica, buscando assegurar o direito à igualdade de condições de vida
e de cidadania, assim como garantir a inclusão de diversos aspectos da história
e cultura que compõem a nação brasileira, além do direito de acesso às
diferentes fontes da cultura nacional a todos brasileiros, já disposto nos
artigos 26, 26A e 79B da Lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional.
Assim
sendo, a Educação Infantil, como primeira etapa da Educação Básica não pode
ficar isenta dessa parcela do currículo, cabendo aos seus gestores, professores
e demais envolvidos proporcionar situações nas quais as crianças possam
adquirir conhecimentos sobre a história e a cultura Afro-Brasileira e Africana.
De
acordo com MEC (2004) a escola tem papel preponderante para a eliminação das
discriminações e para emancipação dos grupos discriminados, pois proporciona
conhecimentos diferenciados capazes de consolidar e ajustar as nações de forma
democrática e igualitária. Para que isso ocorra as escolas e os professores
devem estar preparados, abandonando improvisos, desfazendo e corrigindo atitudes
preconceituosas e racistas, reestruturando relações étnico-raciais e sociais e
desalienando processos pedagógicos.
As
crianças, desde a Educação Infantil, devem aprender a conviver com o diferente,
pois a riqueza da humanidade está na diversidade e nossa nação foi forjada
nessa diversidade. É preciso apontar caminhos diferenciados para que as
crianças de hoje não sejam os adultos xenofóbicos de amanhã e a escola,
enquanto instituição social, deve se posicionar contra toda e qualquer forma de
discriminação, como assinala MEC (2004), assumindo um compromisso com a
formação de cidadãos atuantes e democráticos, capazes de compreender as
relações sociais e étnico- raciais de que participam e ajudam a manter e/ou a
reelaborar, capazes de codificar palavras, fatos e situações a partir de
diferentes perspectivas, de desempenhar-se em áreas de competências que lhes
permitam continuar e aprofundar em diferentes níveis de formação.
Segundo
Hernandez (2004 apud MEC, 2014, p.22) “o que faz os projetos terem vida na
educação escolar é o envolvimento do aprendiz naquilo que está aprendendo, conectando
a comunidade escolar com o mundo vivido”. Ao se trabalhar com projetos é
preciso lançar o olhar para uma perspectiva multifaceta, capaz de contemplar
inúmeros aspectos, indo além daquilo que se presume como menos ou mais
importante, é relevante que aspectos como o fascínio, a colaboração, a exploração,
os questionamentos, as descobertas, os conflitos, as discussões e as reflexões
estejam sempre presente. Enfim, como nos esclarece Hernandez (2001 apud MEC,
2014, p.24), a finalidade desse projeto é que “as crianças aprendam desde muito
cedo a tomar decisões, a assumir responsabilidades e a não deixar que sua
própria voz seja silenciada pelos que falam mais alto ou projetam formas de
exclusão”.
Considerando
que a oralidade é um aspecto relevante para a Educação Infantil, uma vez que
por meio dela as crianças estabelecem laços, interagem, inserem-se e
apropriam-se da cultura, apresentaremos a experiência do Projeto Espaço
Griô:Histórias e Identidades, desenvolvido na Educação Infantil com a sala de
Fase II no município de Tambaú, sendo crianças na faixa etária entre cinco e seis anos e totalizando 23
envolvidos.
Com
um significado muito especial para a cultura africana os Griôs são os
contadores de histórias, genealogistas, cantores e poetas populares,
responsáveis por transmitir tudo o que sabem às novas gerações, por meio da
tradição oral. Para as sociedades africanas, a oralidade é um elemento de
extrema importância na manutenção e produção cultural, sendo a palavra falada
capaz de criar e transformar o mundo. Tais narrativas são guardadas e transmitidas
pelos Griôs, que são treinados para esse ofício desde a infância.
1- Descrição do caso
Buscando
atender à legislação e preparar adequadamente os professores da rede municipal
de ensino a Prefeitura Municipal de Tambaú, juntamente com o Departamento Municipal
de Ensino firmaram o compromisso, por meio do Termo de Ajustamento de Conduta
(TAC),com a Universidade Federal de São Carlos para
a realização do Curso de Aperfeiçoamento em Educação para as Relações Étnico-Raciais,
coordenado pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB) na qual os
professores cursistas tiveram a oportunidade de obter referenciais teóricos e
práticos para trabalharem adequadamente a temática proposta.
O
curso foi realizado no segundo semestre de 2014, portanto é nesse contexto que
surge a ideia de desenvolver o projeto Espaço Griô, que era um dos projetos que
poderia ser desenvolvido, dentre outro como: Projeto Capoeira.
Como já apresentado o projeto foi desenvolvido
na Educação Infantil com a sala de Fase II, envolvendo crianças entre cinco e
seis anos de idade, sendo um total de 23 crianças. No desenvolvimento, o projeto contou com a participação das
famílias dos alunos, demais docentes da escola, Assistentes de Desenvolvimento
Infantil (ADIs) e membro da comunidade (contadora de histórias).
Os materiais utilizados
foram: almofadas, tecidos com estampas étnicas, tapete, bancos, mesas, câmera
fotográfica, DVD, rádio, CD, boneca e galinha de pano, sucatas, tecidos, tinta,
papéis diversos, livros de histórias, fotografias, retalhos, ervas para o chá,
copos descartáveis, objetos de matriz africana, corda, giz, cola, pincel,
canetinha, tesoura, palito de churrasco, revistas, lápis de cor, lápis de
escrever, EVA, cestas, fitas adesivas,
grampeador, brinquedos diversos.
A situação-problema foi: “Quais
estratégias os professores e professoras de Educação Infantil podem adotar para
enfrentar o desafio de construir uma adequada iniciação das crianças na
temática da diversidade racial, organizando para isso ações pedagógicas
cotidianas que contemplem a efetivação da Lei 10.639/2003?”
Diante
do exposto o projeto caminhou da seguinte forma: criou-se um local
denominado “Espaço Griô”, onde o ambiente preocupou-se com a contextualização do
tema em desenvolvimento para que as crianças pudessem ter experiências
concretas com todo o conteúdo a ser desenvolvido durante o trabalho, bem como foram
realizadas diversas atividades e algumas oficinas que contemplaram as fases
sugeridas pelo livro “História e Cultura Africana e Afro- Brasileira na
Educação Infantil”, sendo elas:
O livro “História e Cultura Africana e
Afro-brasileira” (MEC 2014) sugere que uma canção seja ouvida ou cantada para
delimitar o início e o fim das atividades com esse eixo, na qual todos possam
ouvir seus nomes. A canção para o início das atividades foi “A canoa virou” e
para o fim “Se eu fosse um peixinho”. Utilizou-se também a canção “Gente tem
sobrenome” (Toquinho), objetivando acentuar o conhecimento e a importância do
sobrenome.
Nesse momento também
foram realizados alguns jogos e brincadeiras de matriz africana objetivando que
as crianças vivenciassem e tivessem experiências de situações com o próprio
corpo e com o corpo dos colegas, pois como nos assinala Maranhão (2012) o ser
humano aprende jogando, aprende brincando, aprende sentindo o outro.
ü Atividade
2: Contação de histórias africanas- Esse eixo iniciou-se com
a apresentação do clipe da música “A Galinha D’Angola, interpretada por Ivete
Sangalo, do CD Arca de Noé de Vinícius de Moraes. Em seguida foi realizada uma
roda de conversa sobre a letra da música, buscando levantar o conhecimento das
crianças sobre a galinha d’angola. No momento seguinte foi contada a história
“A galinha d’angola” da coleção “Fábulas Encantadas” com o objetivo de explorar
um pouco mais sobre a galinha. A próxima história contada foi “Bruna e a
Galinha D’Angola”, que também configura-se como
eixo norteador do presente projeto, uma vez que a maioria das oficinas
desenvolvidas ancorou-se nos aspectos levantados pela história supracitada.
Organizou-se a pintura de panôs coletivos representando a galinha d’angola
feita através do carimbo das mãos para, bem como um fantoche de palito da
personagem Bruna para que ficassem expostos no Espaço Griô.
Nessa etapa foram realizadas as seguintes oficinas: 1-
jogos e brincadeiras de matriz africana na quadra da escola, objetivando o
desenvolvimento da corporeidade; 2- confecção de ganzá e tambor utilizando
sucata e sementes, para que as crianças pudessem expressar a oralidade através de canções
populares; 3- pintura de panôs, relembrando partes da história “Bruna e a
Galinha D’Angola.
Concomitantemente às atividades já
citadas foi confeccionado um livro coletivo sobre as cores da África, com o
objetivo de que as crianças percebessem a diversidade existente no país em
questão. Também tivemos a visita de uma contadora de histórias, representando
um membro da comunidade. A história contada foi “Poá”, de Marcelo Moreira,
também dentro do contexto da galinha d’angola e enfatizando as diferenças.
Uma exposição para as
famílias foi organizada ao final do Projeto para que todos da comunidade
escolar tivessem a oportunidade de apreciar parte do trabalho desenvolvido
pelas crianças.
2-
Discussão
3- Conclusões
Ao
finalizar esse projeto podemos concluir que, embora demandando muito esforço,
um trabalho incansável e incessante de desconstrução e reconstrução de
conceitos, preconceitos e convenções, a temática sobre relações étnico-raciais
deve estar presente no currículo desde a primeira infância e ser trabalhada de
forma efetiva durante todo o ano letivo, não sendo relegada apenas à datas
específicas. Incialmente acreditei ser um objetivo inatingível trabalhar com a
temática, devido a sua complexidade, julgando o nível de abstração e
envolvimento requeridos, entretanto no decorrer do processo percebi que é um
trabalho totalmente possível, empolgante e positivo, uma vez que as crianças
precisam ser ensinadas de forma adequada a conviver com seu diferente, pois nos
dizeres de Mandela (1995) “ninguém
nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua
religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar,
podem ser ensinadas a amar.” As crianças apresentaram atitudes positivas com
relação a construção de sua identidade sempre respeitando o outro em sua
subjetividade.
4- Referências Bibliográficas
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SANGALO,
Ivete. A Galinha D’Angola. Disponível
em <https://www.youtube.com/watch?v=r16KLm0A8IY>. Acessado em 27/09/ 2014.
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